Bombas no Riocentro
Mililtares "patriotas" fracassam em matar inocentes, num show de música popular no Rio Centro. Havia no Riocentro uma multidão de 18.000 pessoas, assistindo a um show artístico em homenagem ao Dia do Trabalhador. No momento da eclosão - 21 h20m - cantava Elba Ramalho.
A explosão ocorreu dentro de um automóvel puma, na noite de 30 de abril de 1981, com a bomba no colo do Sargento do Exército Guilherme Pereira do Rosário, cuja morte foi instantânea. Ao lado do sargento, no volante, estava o Capitão Wilson Luiz Chaves Machado, o qual, ato contínuo, sai do Puma segurando vísceras à altura do estômago.
Havia no Riocentro uma multidão de 18.000 pessoas, assistindo a um show artístico em homenagem ao Dia do Trabalhador. No momento da eclosão - 21 h20m - cantava Elba Ramalho.
Somente, pois, não aconteceram o pânico e a histeria coletivos porque o explosivo estourou no colo do sargento. O plano visava exatamente a multidão. Tanto que uma segunda bomba explodiu alguns minutos depois na casa de força do Riocentro. Sua carga não foi suficiente para afetar os dispositivos produtores da iluminação e o show continuou, sem o público ficar sabendo do que se passara.
Na tarde daquele dia o sargento e o capitão tinham sido vistos no restaurante Cabana da Serra, na estrada Grajaú -Jacarepaguá. Garçons suspeitaram tratar-se de assaltantes de bancos, porquanto estavam à paisana, armados e a examinar um mapa. Chamaram a polícia. Compareceram dois soldados da rádio-patrulha. Os estranhos identificaram-se como agentes da Polícia Federal. Em face disto os garçons apenas anotaram as chapas dos seus veículos, entre estes o Puma - placa OT-0279. O encontro, ali, do sargento e do capitão, viria depois a ser por este confirmado.
Guilherme e Wilson chegaram ao Riocentro faltando dois minutos para as 21 horas. O capitão pagou o bilhete de n.º 64.270 a fim de estacionar o seu carro. Às 21 h07m o comerciário João de Deus Ferreira Ramos estaciona seu Volkswagen ao lado direito do Puma chapa OT-0279 e cumprimenta seus dois ocupantes, mas nem o Sargento Rosário nem o Capitão Machado respondem. Ferreira Ramos diz ter certeza da hora exata porque já estava atrasado para o show e se confessa "um maníaco por horários". No final do show, estarrecido ao saber da explosão, ele contaria seu encontro com os dois militares. Nos dias seguintes, porém, o comerciário passaria a fugir da imprensa para não falar do caso. Mas acabou depondo.
Esse depoimento é importantíssimo porque revela que, no mínimo sete e no máximo doze minutos antes da explosão da bomba no colo do sargento, este e o capitão se encontravam no Puma, já que às 21 h15m/21 h20m, "o Capitão Wilson Luiz Chaves Machado liga o motor do seu automóvel, engata a marcha a ré e começa a sair da vaga onde estivera estacionado. Dentro do pavilhão de espetáculos, a cantora Elba Ramalho ainda não terminou seu número; distante dali, na bilheteria do estacionamento, Tenente César Wachulec está contrariado: além de ter sido afastado da chefia de segurança, ele constata que a Polícia Militar não enviou os soldados que havia solicitado. O pátio do estacionamento está despoliciado. O carro do Capitão Machado percorre poucos metros. Mal saiu da vaga e uma bomba explode em seu Interior" .
Aproximadamente vinte e cinco minutos depois, uma neta do Senador Tancredo Neves - Andréa Neves da Cunha, que acabara de chegar para o show, com seu noivo Sérgio Vali e - leva em seu carro o capitão para o hospital Lourenço Jorge. Mas os médicos preferem atendê-Io no Hospital Miguel Couto e o conduzem para ali. Apesar da gravidade dos ferimentos o capitão escapa.
Na ocasião o governo culpou radicais da esquerda pelo atentado. Essa hipótese já não tinha sustentação na época e atualmente já se comprovou, inclusive por confissão, que o atentado no Riocentro foi uma tentativa de setores mais radicais do governo (principalmente doCIE e o SNI) de convencer os setores mais moderados do governo de que era necessária uma nova onda de repressão de modo a paralisar a lenta abertura política que estava em andamento.
Esse episódio é um dos que marcam a decadência do regime militar no Brasil, que daria lugar dali a quatro anos ao restabelecimento da democracia.
Várias medidas estranhas tomadas no dia em que se realizaria o show indicam que o atentado envolveu a participação estratégica de muitas pessoas, militares e civis, e que já vinha sendo planejado detalhadamente pelo menos um mês antes.
Foi aberto um inquérito policial militar sobre o caso, e o indicado para presidi-lo foi o coronel Luís Antônio do Prado Ribeiro. Pouco tempo depois, ele já estava convencido de que os passageiros do carro eram os autores do atentado. No entanto, Ribeiro renunciou à presidência do inquérito, possivelmente por pressão de membros da "comunidade de informação".
O coronel Job Lorena de Sant'Anna assumiu em seu lugar. O coronel havia comparecido ao enterro de Rosário, onde leu um discurso que declarava que ele fora vítima de um ato terrorista, corroborando a versão divulgada inicialmente pelo Exército, embora várias evidências a desmentissem.
Novas provas surgiram dezoito anos depois daquilo que poderia ter sido o maior atentado terrorista urbano da história do Brasil. Após três meses de investigações, o general Sérgio Conforto, encarregado do novo inquérito policial-militar (IPM) do Riocentro, encerrou seu trabalho apontando a responsabilidade de quatro militares pelo atentado. O coronel Wilson Machado, que estava no Puma que explodiu, foi indiciado por homicídio qualificado, por ter assumido o risco de uma ação que poderia causar a morte de Guilherme (pena de 12 a 30 anos). Wilson Machado foi indiciado também pela antiga Lei de Segurança Nacional, crime que está prescrito. O general da reserva Newton Cruz, ex-chefe da Agência Central do SNI, foi indiciado por falso testemunho (dois a seis anos) e desobediência (um a seis meses). Newton Cruz foi indiciado também por prevaricação e condescendência criminosa, mas só responderá por falso testemunho e desobediência. Conforto concluiu que havia provas para indiciar o sargento Guilherme do Rosário, morto na explosão, e o coronel Freddie Perdigão, chefe da agência do SNI do Rio em 1981 e que morreu em 1997. Descobriu-se que Freddie Perdigão havia planejado o atentado.
"O evento fazia parte das comemorações que entidades de esquerda organizaram para o Dia do Trabalho, naquele 30 de abril de 1981, no Riocentro, Rio de Janeiro.
O efeito da bomba, porém, não foi imediato: Gonzaguinha, Chico Buarque e Alceu Valença seguiram cantando. Não pararam nem quando outro artefato estourou na estação elétrica – e este poderia ter cessado o som e as luzes, instalando o caos. Mal colocado, no entanto, o explosivo passou quase despercebido.
O episódio marcou a melancólica derrocada da Ditadura Militar instaurada em 1964. Apesar dos laudos oficiais dizerem que o capitão e o sargento atingidos dentro do veículo foram surpreendidos pelo artefato, mais tarde comprovou-se – não oficialmente – o que já se fazia entender.
Eles cumpriam plano de uma ala do Exército que não aceitava a “abertura lenta e gradual” proposta pelo presidente Figueiredo. Se mostrassem que a Esquerda era terrorista e perigosa, um contra-ataque ditatorial estaria novamente justificado".
Fonte: CMI Brasil
pt.wikipedia.org/wiki/Atentado_do_Riocentro
www.almanaquebrasil.com.br/.../bomba-do-riocentro-saiu-pela-culatra/
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